sexta-feira, 22 de abril de 2011

Roteiro de Visita a festa de São Jorge


Plano de Aula e Roteiro de Visita à festa de São Jorge no centro do Rio de Janeiro
Por Dermeval Marins de Freitas

O objetivo da visita à festa de São Jorge é incentivar o trabalho sobre a cultura popular dentro da escola, valorizando as experiências que muitos alunos (católicos) possuem devido suas participações nas missas para o santo. Além disso, pretende-se valorizar a diversidade cultural e o respeito a todas as manifestações culturais e religiosas do Brasil, indo de encontro ao eixo temático Pluralidade Cultural, compreendido nos PCN’s.
Segundo Camila Henrique, “o tema Pluralidade Cultural contempla a variedade étnica formadora da sociedade brasileira, a diversidade cultural dessa sociedade e ainda conceitos como igualdade, cidadania e nação”[1]. A festa de São Jorge pode ser encarada como um bem cultural de natureza imaterial, ou seja, como patrimônio cultural. Ao trabalharmos com esse bem, ainda pode ser discutido os conceitos de identidade, reconhecimento, respeito, preservação e cidadania. O estudo e vivência desta festividade permitiriam sensibilizar os alunos da importância dela, de modo a respeitarem e desejarem a preservação desse bem cultural imaterial.
Mas como trabalhar a festa de São Jorge em sala de aula, nas aulas de história? Poderíamos começar com um breve histórico das origens desta festividade no Brasil, através dos seus antecedentes em Portugal, durante o processo de constituição do Estado-nacional. Em seguida, poderá ser analisado as diversas formas como a festividade foi celebrada, tanto em Portugal como no Brasil.[2] Vale comentar ainda, a oficialização, em esfera estadual, da festa de São Jorge em feriado estadual, conforme a lei 5.198, de 05 de março de 2008, realizada através de lutas políticas que, por fim, resultaram no reconhecimento da festa como um bem cultural, devendo ser respeitada e preservada.  Nesse momento, é oportuno dizer o quanto o decreto 3.551, veio a consolidar o reconhecimento da festa de São Jorge como um bem cultural imaterial, pois ele, “colocou em marcha um novo conceito de patrimônio cultural, que contribui social e politicamente para a construção no Brasil, de um acervo amplo e diversificado de expressões culturais”.[3] Tal conceito, substituiria o tradicional conceito de patrimônio cultural, material, “associado às obras de ‘pedra e cal’”[4], para um conceito mais amplo, incluindo manifestações culturais de caráter imaterial, isto é, “manifestações musicais, artísticas e religiosas populares”[5].
A história da festa de São Jorge pode ser trabalhada, tanto através da exposição do professor da história da festividade, ou através do texto “Santo Guerreiro”, dependendo da série. Nos casos das séries iniciais dê preferência à exposição, devido o tamanho do texto e sua linguagem, já nas séries finais do ensino fundamental ou ensino médio, a leitura do texto permitiria o contato do aluno com dois tipos de fontes: além das letras impressas o artigo possui rico material iconográfico. Depois da leitura, devem ser realizadas atividades de interpretação de texto e imagens.
Após a esta primeira abordagem, a ser realizada no tempo de duas horas aula, uma semana antes da festa, passemos para o “trabalho de campo”, ou seja, a visita a festa de São João. Nela será pedido aos alunos que observem bem o desenvolvimento da celebração (e que de preferência os alunos venham com blocos de anotação, para registrar as principais características), pois servirá de embasamento para realização de uma redação, comparando as formas de celebrar a festa antigamente, com a forma em que é realizada hoje. Os alunos, além disso, poderão trazer máquinas fotográficas para registrarem os diferentes momentos da festa, fotos estas que reveladas comporá o mural da turma sobre a visita realizada.
Na terceira aula, os alunos apresentarão em círculo as suas redações e, além disso, exporão as suas percepções sobre festa, construindo assim, uma memória coletiva sobre tal manifestação popular e religiosa. Por fim, realiza-se o mural com as fotos, sobre a cartolina, em seguida cola-o no corredor, deixando exposto para toda a comunidade escolar ver e apreciar.
Tomando o cuidado de não estender o tema por um período demasiado longo, ainda poderia ser realizadas entrevistas com pessoas que os alunos conheçam que participam da realização da festa, tal entrevista poderia ser realizada tanto em sala de aula (através do convite) ou exteriormente, com os alunos indo até os entrevistados, desse modo, estaremos valorizando a própria cultura da comunidade ao redor da escola, vivenciada pelos alunos, construindo um forte sentimento de identidade e respeito pela festividade. Com isto também estaremos trabalhando com a história oral, ou melhor, com a memória dos sujeitos envolvidos na realização da festa.



[1] SANTOS, Camila Henrique. “Educação Patrimonial: Uma ação institucional e educacional”. In: Patrimônio, Práticas e Reflexões. Edição do Programa de Especialização em patrimônio 1. Rio de Janeiro: IPHAN, 2007. p.156.
[2] O texto que serve como orientação para os estudos históricos da festa de São Jorge é: SANTOS, Beatriz Catão Cruz. “Santo Guerreiro”. In: Revista de História da Biblioteca Nacional. SABIN: Rio de Janeiro; ano 5, nº58, julho de 2010. p.76-79. Também disponível digitalmente em: www.revistadehistoria.com.br.
[3] MARTHA, Abreu. “Cultura imaterial e patrimônio histórico nacional”. In:____________(org). Cultura política e leituras do passado: historiografia e ensino de história. Rio de Janeiro: FAPERJ, 2009. 359.
[4] Ibid.p.354.
[5] Ibid.p.353.

7 comentários:

  1. Olá, Dermeval,
    Algumas questões para pensar:
    1)será que são só os alunos católicos que se reconhecem nessa festa?
    2)curiosidade: porque a festa surge em Portugal no período da formação do Estado Nação?
    3)quando vc fala do trabalho de campo, vc coloca festade São João.
    4)sobre a atividade a ser feita:
    4.1)qual a referência ( descrição/relato/imagens) da festa antigamente?
    4.2) entendo que vc está nos capacitando para trabalhar a festa em sala de aula. O que vc sugere que façamos amanhã? Algo especial, além de anotarmos o que vemos?

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  2. Turma quem está listado para participar da festa amanhã são:
    Flavio, Danielle Ocnceição, Demerval, Luiz Carlos, Hugo, Roberto, Bernard, Paulo Vinicius, Ronald, Rafaela, Davi, Cristianes, Wanderson.
    Aguardo vcs. Se alguém não for envie um email para mim ainda hoje, por favor.

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  3. Apesar das faltas de alguns colegas, o evento foi um verdadeiro "diário de intinerância", pois tivemos a oportunidade de conversar com duas autoridades religiosas (um padre e um babalorixá). Contudo, precede aos relatos o que percebemos da festa: uma mercantilização que desrespeita as tradições; a intervenção do poder público, pelo braço dos governos do estado e do municipio, limitando a expressão do mercado popular autônomo; a diminuição dos "pagadores de promessa" e articulação globalizada de vendedores de souvenir da festa; a descontinuidade de expressões culturais próprias da festa: grupo de partideiro, que evidenciam sua devoção pela canção, roda de capoeira, que se energiza pelas canções da roda.
    Fora esse ambiente, onde até o banheiro tinha um preço, fomos felizes pelos relatos das autoridades religiosas.
    Fomos bem recebidos pela autoridade religiosa do candomblé ketu, que é um imigrante da Bahia e está sediado no municipio de Nova Iguaçú com seu terreiro. Era perceptível que o forte desse pai-de-santo não era o culto a São Jorge, pelo seu desconhecimento de várias questões; uma das mais interessantes, que a nossa orientadora acreditou ter algum significado, reportava-se ao fato de a imagem do santo está desprovida do cavalo e a resposta foi a mais simplória, demonstrando o casuísmo do babalorixá.
    Não estive com o padre, mas os relatos dos que o entrevistaram apontaram para a profissionalização do culto, pois o mesmo parecia ser capelão militar, do quadro de oficiais do Corpo de bombeiro do Estado. Segundo um dos entrevistadores, o casuísmo dessa autoridade ficou patente na sua afirmação de estar à frente da paróquia por mais de 15 anos e , ao ser questionado da participação da igreja na construção dos feriados municpal e estadual, desconhecer a trajetória legislativa para que o Estado reconhecesse a pertinência do feriado.
    Para não acabar com a festa, vale à pena debatermos sobre o assunto no próximo encontro. Portanto, não faltem!

    Espero todos lá!

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  4. Desculpem-me! Tive alguns problemas pessoais e não pude comparecer e não deu tempo de enviar o e-mail cancelando a minha presença.

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  5. Respostas:
    Realizar um roteiro de visita e um plano de aula sobre a festa de são Jorge foi um verdadeiro desafio para mim, tive que tatear na escuridão a busca de vestígios cujas informações, na maioria das vezes, eram insatisfatórias.
    A maior parte das fontes que pesquisei se tratavam de dados jornalísticos sumários, cuja preocupação do redator se reduzia em informar a data, o local, e quais ruas ficariam fechadas. Fora isso, encontrei as leis estaduais e federais, mas nada comentando, a fundo, a luta em transformação do dia santo em feriado.
    Para a contextualização história do dia santo, pude contar com a minha sorte (rsrsrs), pois estava pesquisando uma matéria sobre as representações literárias do carnaval na revista da biblioteca nacional, já que estava trabalhando com meus alunos do 8º e 9º a história do carnaval, quando encontrei a matéria sobre o santo guerreiro na mesma revista, cujos dados para pesquisa está na nota de rodapé número 6, com o endereço eletrônico para aqueles que não possuem a revista.
    Não tive nenhum conhecimento prévio da festa, fruto de experiências passadas da festa de são Jorge (já que não possuo religião, ou melhor, sou agnóstico), por isso me mantive cauteloso na proposição do roteiro, propondo somente uma percepção das diferenças da festa no tempo e no espaço.
    Nas minhas leituras pude conhecer o sincretismo religioso em torno da figura de São Jorge, mas como se tratava de uma festa católica a ser realizada justamente nas proximidades da igreja, cogitei a idéia que ali as religiões afro-brasileiras não teriam espaço, algo que foi refutado durante a nossa visita com a presença de um pai de santo realizando seus trabalhos em frente à praça da república. Por isso afirmei, no início do roteiro, que um dos objetivos do trabalho era valorizar “as experiências que muitos alunos (católicos) possuem devido suas participações nas missas para o santo”. No entanto, como observamos diretamente, isso pode ser abrangido para os alunos que cultuem a umbanda e o candomblé, analisando as formas que este santo vai ser apropriado por essas religiões, cujas diferenças se situam até mesmo no plano territorial, já que segundo o pai de santo que nos concedeu a entrevista, em Salvador São Jorge é Oxossi, um orixá que segundo estudos que realizei é associado à lua (por isso a idéia de que na lua estaria São Jorge matando o dragão), e no Rio é Ogum e vice-versa.
    Para que os alunos não depreciem as religiões afro-brasileiras devido as suas apropriações, ainda podemos mostrar que o próprio São Jorge se modificou com o tempo, havendo várias hagiografias medievais retratando histórias diferentes do santo, sendo que a imagem que se cristalizou foi o do santo-guerreiro, um típico guerreiro medieval, lutando contra as forças do mal (os infiéis, por isso se tornou símbolo dos cruzados), defendendo o bem (a fé cristã). São Jorge foi sem dúvida uma imagem germanizada, o dragão só existe nas religiões chinesas e germânicas, o ideal guerreiro é próprio dos germanos, desde a época de César, quando os retratou em De bello gallico no século I a.C.
    Como afirmei outrora, o santo está intimamente ligado a monarquia portuguesa quando do processo de formação do estado nacional. Segundo o texto “O Santo guerreiro”, durante o “reinado de D. João I (1385-1433), o fundador da Dinastia de Avis (1385-1581). Nessa época foi instituída a festa de Corpus Christi ( Corpo de Deus) em Portugal e São Jorge tornou-se o patrono do país, em substituição a São Tiago ( de Castela), passando a figurar nas procissões lusitanas a partir de 1387. Em 1422, outro fato contribuiu para a popularização do santo: o monarca cria a Casa dos Vinte e Quatro, uma instituição por meio de artesãos tinham alguma representação política de Lisboa. D. João I fora alçado ao trono por um movimento que os incluía, e buscava reconhecer este engajamento”.
    Acho que consegui responder as suas perguntas professora.

    Atenciosamente,

    Dermeval Marins de Freitas

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  6. Desculpem não ter ido. Apresentei trabalho no EREH, já havia pago minha inscrição quando foi marcada a data da visita.

    Saudações, Monique

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  7. A Festa de São Jorge mantém sua grande importância no calendário religioso do Rio de Janeiro, que teve sua celebração na cidade definida no século XIII. Durante a visita a festa do santo guerreiro foram realizadas gravações de duas entrevistas uma com um babalorixá que estava com sua bancada na calçada e uma com um padre dentro da igreja. Percorrendo a festa que tinha missas realizadas de hora, foi notada a presença de diversas características, os devotos que assistiam às missas e faziam fila para entrar na igreja, não só católicos como também os devotos de religiões de origem africana, uma roda de samba, além da organização do comércio realizada pelo governo, gerando uma padronização dos vendedores. Durante a entrevista com o pai-de-santo baiano, que participa da festa a um ano na cidade, o mesmo nos revelou uma diferença entre a festa do seu estado e a do Rio de janeiro onde o que ele chama de “povo do santo”, na Bahia se une durante a celebração enquanto na cidade do Rio de Janeiro o próprio “povo do santo” critica a atividade religiosa que ele está exercendo.Após a entrevista com o babalorixá o grupo se dirigiu até a igreja para realizar sua segunda gravação. No decorrer da entrevista, o padre que celebra a missa há quinze anos, desde que passou a integrar a corporação do corpo de bombeiros, diante de uma pergunta afirmou que o povo se identifica com São Jorge porque a população acredita que pode vencer as adversidades, que são representadas pelo dragão enfrentado pelo santo guerreiro. E termina dizendo que fica feliz em receber pessoas que não são católicas mas que possuem carinho por São Jorge por ele ser um exemplo de vida. BERNAND

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